suícidio

Olha bem para ti, sim já o fizeste imensas vezes e de todas elas, odiaste-te, mas calma, será mesmo este acto que tu queres cometer, será que o que queres mesmo é fazer um corte demasiado fundo, será que afinal queres tomar uns quarenta comprimidos para não ter de acordares mais, será que tu queres mesmo cometer o suicídio? Tu és bonita/o, tu tens qualidades e mesmo que não pareça tens pessoas que te amam, tens pessoas que iriam sentir a tua falta. Por momentos tenta imaginar que tinhas coragem suficiente para cometer tal coisa, imagina a dor da tua mãe que um dia quando te vai acordar para ires para a escola encontra-te caída no meio do chão do quarto, imagina o desespero dela enquanto grita pelo teu pai e a dor que ele também irá sentir, a culpa que ambos irão partilhar por todas as vezes que não te apoiaram, por todas as vezes que discutiram contigo, que te deixaram sozinha/o. A angústia que eles irão sentir enquanto estiverem na sala de espera do hospital à espera de alguma resposta dos médicos e que quando eles lhes disserem que tu não irás voltar mais e que a escolha foi tua e somente tua, o que irão eles sentir? Nesse mesmo dia terem de informar os familiares mais próximos que já não estarás presente em mais aniversários nem em natais, que a mesa ficará incompleta, que já não vais estar cá para partilhar da alegria de todos. Eles vão sentir-se tão culpados como os teus pais, porque ninguém percebeu o quanto o teu sorriso era falso, o quanto choravas todas as noites, as quantas cicatrizes bem visíveis que tinhas pelo teu corpo, eles vão chorar e odiarem-se tal como tu te odiavas a ti. Na escola, o teu lugar vai estar vazio e os teus colegas vão pensar que apenas queres “baldar-te” ou que estás com uma simples constipação, e quando eles também souberem o que realmente te aconteceu? Uns deles irão sofrer por os mesmo motivos que os teus familiares, aqueles que por vezes te disseram que estavas mais gorda/o, vão arrepender-se disso, porque vão perceber que aquelas palavras simples foram complicadas para ti, que não as ultrapassas-te, todos aqueles que não te conheciam, vão sentir também, vão ter pena de ti, sim, pena. Ao final do dia os teus irmãos vão chegar a casa e os teus pais vão dar-lhes a notícia de que tu partiste, todos eles vão ficar chocados, vão arrepender-se de cada discussão que tiveram contigo, de cada palavra usada contra ti.

Passado um mês a tua mãe vai voltar a entrar no teu quarto, ele teve fechado desde aquele dia terrível, as coisas continuam no mesmo lugar, a cama do mesmo jeito que a deixaste, a carta de despedida e a caneta em cima da secretária um pouco desarrumada como habitualmente tinhas, a tua mãe olha à volta e sente a tua presença ali, e nesse momento é ela que cai no meio do quarto, enquanto chora compulsivamente ao pensar na dor que suportas-te todos os dias sozinha naquele sítio, ela não consegue arrumar a tua roupa, nem arrumar os sapatos que deixaste espalhados, ela quer o teu quarto, tal e qual da maneira como o tinhas sempre. À noite ela vai chorar enquanto estiver deitada na cama com o teu pai ao lado, vai tomar comprimidos para dormir, tal como tu tomavas para acalmar os teus ataques de pânico. O teu pai vai chorar também enquanto a abraça e provar-lhe que não está sozinha apesar de tu teres partido…teres caído na solução que achaste correta.

Agora pensa, isso valeu a pena? A dor que agora sentes é a dor que todos os outros vão sentir, eles não aparentam, eles desvalorizam-te a maior parte do tempo mas eles gostam de ti e não conseguem seguir a vida deles sem a tua presença, sem a tua voz, sem o teu olhar. Provavelmente muitos deles vão seguir o mesmo caminho que tu e eu sei que não é isso que queres, tu queres que eles sejam felizes apesar de tudo, por isso antes de fazeres qualquer coisa pensa nas consequências dos teus actos, eles não irão esquecer tão facilmente, não irão. E tu não estás sozinha, há sempre alguém contigo, disposto a ajudar-te, só tens de fazer um esforço e tentar, tentar superar sem pensares na solução que parece mais fácil e a mais bela, sê forte, pois tu, consegues.